Querido Ernesto,
Fico feliz por ver que a criança que reside em ti diminuiu. Não ouso
sequer dizer que desapareceu, bem sei
que não, querido Ernie; bem sei que nenhuma criança que resida num corpo de
adulto, grande e complicado de mais para uma mente tão inocente e criativa como
a de um pequeno ser, deva desaparecer.
Elas simplesmente não desaparecem, Ernesto, mas fico feliz por ti.
Fico feliz porque conseguiste superar as adversidades que te colocaram à
frente. Sabes, sempre pensei que fosses como o vento e voasses na direcção que
te dava mais jeito... ora para Norte, ora para Sul, ora estagnasses pois
estavas cansado demais para fazer o que quer que fosse. Mas agora sei que não.
Agora sei que és como as ondas do mar que nunca param e que mexem sempre,
sempre... até embater contra a branca e suave areia que as aguardam numa
qualquer praia. A tua praia é a vitória.
Reparei que enfrentaste certas tempestades, mas, oh Ernesto, por favor
não ligues. Por favor continua a ser tu, o Ernestezinho que sempre conheci e
idolatrei; e ainda agora com esses caracois desalinhados que tomaram o lugar do
teu cabelo quase cortado à escovinha e penteado demais, e com essa barbicha de
jovem galã por fazer, me apaixonas. Oh Ernesto, Ernesto...
Sabes que serei sempre tua. Sempre verdadeiramente tua para que um dia,
quando te apetecer fazer crescer a criancinha, quase bebé, residente em ti, o
possamos fazer juntos. E aí saltaremos num qualquer jardim, e quem sabe
possamos reaver a inocência de quem nunca amou.
Por favor cuida de ti, Ernesto. Por favor, ultrapassa os obstáculos por
mim e mantém-te forte como o tal muro
que separava o famigerado país, lá para os lados de leste... mas que sei eu?
Nada. Apenas sei que te deves manter forte.
Da sempre tua,
Dulce.
em 29 de Abril de 2010
N/A: Este foi um dos primeiros textos que escrevi que integram a saga "Querido, Ernesto". Reli agora, gostei e postei :)
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