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terça-feira, 15 de outubro de 2013

Hoje...sei lá...deu-me para isto! :)

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Eugénio de Andrade

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Eu e a Bia temos muitas conversas à uma da manhã, quando boa parte do mundo está a dormir---quiça, nós próprias estejamos meio adormecidas, e seja essa a razão das tiradas inspiradoras e risadas tontas que damos sozinhas, cada uma em frente ao seu ecran.

Apreciadora de citações, como eu, a Bia disse que tinha "lido num sítio qualquer" que "nós somos as conversas que temos, as pessoas que conhecemos, os sitios que vemos" e eu achei inspirador. Ela acha que é verdade e segue este lema de vida. Eu cá me pergunto com que pessoas se cruza ela, porque a Bia é aquela peça de uma colecção standart que sai meio torta, meio diferente. É única.

Se somos as pessoas que conhecemos e as conversas que temos e os sítios que vemos isso explicará muita coisa da vida. Provavelmente explica porque é que eu nunca estou calada---já tive muitas conversas---ou porque é que, ainda assim, me sei calar no momento certo e apreciar Lisboa a desembocar no Tejo. Gosto de sítios únicos e inspiradores. Tão inspiradores como a citação da Bia.

Hoje acordei e ela fez uma descoberta, descobriu qual o "sitio qualquer" onde tinha visto a frase e passou-me o paragrafo todo para eu ler. É por isso que estou a escrever isto, porque me inspirei e porque também quero ser aquela peça diferente, que sai meio torta e feia da máquina e que se vende a um preço incrivelmente injusto num freeport porque vem com defeito, como se fosse crime sair da mãe, sair da linha, sermos a vaca púrpura deste mundo.

E aqui fica:

"You are the books you read, the films you watch, the music you listen to, the people you meet, the dreams you have, the conversations you engage in. You are what you take from these. You are the sound of the ocean, the breath of fresh air, the brightest light in the darkest corner. You are a collective of every experience you have had in your life. You are every single day. So drown yourself in a sea of knowledge and existence. Let the words run through your veins and let colors fill your mind"

terça-feira, 23 de julho de 2013

Queria escrever-lhe um texto bonito como ele merecia, mas todas as palavras que tenho estão entrelaçadas com a dor e a mágoa, que tento guardar para mim.

Talvez amanhã. Ou talvez noutra vida.

domingo, 16 de junho de 2013

Porque é Neruda. Porque eu adoro. Porque sim.

"Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Escribir, por ejemplo: "La noche esta estrellada,
y tiritan, azules, los astros, a lo lejos".
El viento de la noche gira en el cielo y canta.
Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Yo la quise, y a veces ella también me quiso.
En las noches como ésta la tuve entre mis brazos.
La besé tantas veces bajo el cielo infinito.
Ella me quiso, a veces yo también la quería.
Cómo no haber amado sus grandes ojos fijos.
Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.
Oír la noche inmensa, más inmensa sin ella.
Y el verso cae al alma como al pasto el rocío.
Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.
La noche está estrellada y ella no está conmigo.
Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Mi alma no se contenta con haberla perdido.
Como para acercarla mi mirada la busca.
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.
La misma noche que hace blanquear los mismos árboles.
Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.
Ya no la quiero, es cierto, pero cuánto la quise.
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.
De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.
Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.
Porque en noches como esta la tuve entre mis brazos,
mi alma no se contenta con haberla perdido.
Aunque éste sea el último dolor que ella me causa,
y éstos sean los últimos versos que yo le escribo."

Pablo Neruda, Poema 20 in 20 Poemas de Amor Y Una Cancion Desesperada

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Nadal VIII, de Paris

Desde pequena, isto é, desde os meus 13 anos ou coisa que o valha, que vejo ténis.

E desde que vejo ténis, que apoio o Nadal.

E desde que apoio o Nadal que ele ganha Roland Garros---com excepção daquele ano fatidico, 2009, em que perdeu nas meias-finais.

Entre um Roland Garros e outro existem sempre períodos de baixo rendimento ou de intensas glórias; em particular, o ano passado, passou-se o total pesadelo em que, após uma desistência havia outra e outra e outra, e todos nós, Nadalistas, pensámos que o filão de vitórias e de jogos cheios de garra e força Nadaliana tinham terminado. E depois Rafael Nadal renasceu.

'and to me it's always Nadal, Nadal, Nadal'

Eu sempre o apoiei. Desde os meus 13 anos, como disse. E desde os 13 anos que sei que as coisas só acabam quando acabam: uma partida com um aperto de mão, uma discussão com uma conclusão. Só é preciso ter calma e persistência e paciência mas mais que isso: força e querer. É preciso lutar.

E de entre todas as vitórias que já celebrei com o Nadal, todos os tracinhos de personalidade e pequenas lições de vida que com ele aprendi são as que mais estimo e que guardo para mim, como ele guarda todos os troféus de Roland Garros.

sábado, 23 de março de 2013

E as voltas que eu daria nesta linha recta com o intuito de adiar a chegada à meta...