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terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Opinião #12: Equador

Título: Equador
Autor: Miguel Sousa Tavares
Páginas / Ano: 528 / 2003
Descrição aqui
Este livro consumiu-me.

Epá. Mas que livro foi este???

Comecemos pelo inicio (e desde já peço desculpa porque acho que isto vai ser grandinho. Tenho muitos sentimentos, pessoal!!!!!). Nunca tinha tido vontade de ler o Equador nem sequer nutro qualquer simpatia pelo seu escritor, mas olhando um dia para a estante e pensado no que ler a minha mãe disse-me: "Lê este, vais gostar. É daqueles que lês devagarinho para não acabar tão rápido".

E verificou-se. Li estas 500 e tal páginas em pouco mais de uma semana,sempre que tinha um tempinho livre lá ia eu pegar nele. Delicioso!

O Equador é a história de Luís Bernardo Valença, nomeado governador de São Tomé e Príncipe que tem como missão fazer provar ao cônsul inglês que há de chegar à ilha que não existe escravatura. Isto revela-se uma tarefa difícil pois os conceitos de escravatura são diferentes dependendo das personagens do livro e...sejamos honestos, os donos das roças estão-se pouco borrifando para as tarefas diplomáticas. Querem é os seus euritos (escudos???). Eu gostei desta diferença de pontos de vista, a visão citadina e evoluída de Luís Bernardo face a uma visão mais mercantil e focada nos seus próprios interesses dos roceiros.

Na verdade, eu amei o Luís Bernardo, okay? É um homem integro, de honra que pronto, tem assim uma pancada pela mulheres erradas e que nunca, NUNCA, se devia ter deixado desapaixonar da Matilde porque, benzáDeus que esta mulher não o iria levar por AQUELE caminho.


Mas isto para dizer que o Luís Bernardo foi aquele factor que realmente me fez gostar do livro, eu adorei o seu personagem e como se esforçava para manter a paz e as suas ideias e sobretudo fazer algo de bom naquela ilha. Foi este personagem que me fez ler o livro bem rápido porque queria saber como tudo ia acabar.

Quando se apresenta o consul inglês, existe uma quebra no livro, na minha opinião. Não gostei muito da introdução do David e da Ann e ainda menos gostei de que apesar de estarem sempre a dizer que a Ann era muito inteligente e culta e isto e aquilo, em todas as suas aparições só se destacavam as mamas e os olhos. Okay, já percebemos: a senhora usa vestidos para mostrar o seu 85B e tem os olhos azuis cor de mar. E então, podemos ver porque é que ela é inteligente?

Ai e nem vou comentar as descrições sexuais, porque né?! Imaginem-se: são 7 e 20 da manhã, vocês estão à espera do metro e existe uma cena sexual com o seguinte conteúdo: "Esborracharam-se um contra o outro como dois animais em cio"....muito bom! Do esborrachar ao cio, é uma aventura. E esta foi só a primeira, porque cada vez que existia uma interacção sexual, os protagonistas eram comparados a animais com cio??? Ou animais??? Eh???  Detestei.

Apesar desta partes, eu adorei o livro e recomendo a todos, mesmo. Acho que nos apresenta um lado da história de Portugal que nem sempre é comentado e apresenta-nos a escravatura vista do ponto de vista de quem manda e de quem quer fazer as coisas melhor. Isto não é um livro sobre escravos, é um livro sobre a vida de um homem.
E mesmo tendo eu adorado este livro, posso dizer que o final deixou muito a desejar (na minha opinião!) e que merecia melhor. 

Bem, acho que para falar mais da Ann e do Luís e do David terei que entrar em spoilers, por isso, se querem ler este livro que apesar de todas as suas falhas vai ser a viagem da vossa vida VÃO, não leiam o que está abaixo... se por outro lado, querem já saber da paródia completa, venham comigo:

Antes, deixo-vos uma das minhas frases favoritas do livro:
"Não sei se sou eu que vencerei as ilhas, ou elas que me vencerão a mim.”

********SPOILERS********




Falando da Ann:

Achei o romance dela com o Luís Bernardo o maior caso de insta-love de sempre. Eu, que sempre tive o Luisinho em tanta consideração!!!! No final, fiquei a pensar se terá mesmo sido má escrita (que em parte acho que foi) que levou a este insta-love ou se foi mesmo a intenção, que também acho que foi. Acho que da parte da Ann isto nunca teve pernas para avançar, mas como víamos o livro do ponto de vista do Luís Bernardo acho que o MST podia ter-se esforçado mais em aprimorar este romance.

É que parece que aconteceu de uma hora para a outra??? A Ann é apresentada, juntamente com os seus olhos cor de mar e o seu decote, não abre a boca, todos ficam babando por ela, e de repente ela declara-se a Luís Bernardo e o Luís Bernardo sempre esteve apaixonado por ela??? Como???? Isto aconteceu enquanto dormíamos??? Existe uma página 9 3/4 que só vemos por magia onde se explica esta paixão assolapada desenvolvida pelo governador???

É que se a paixão fosse pela Doroteia estava explicada agora pela Ann???

Bom, a partir desse momento é só um descarrilar de coisas nesse romance, na verdade. Tenho pena que uma mulher descrita como tão inteligente, fosse apenas e só valorizada pelo seu corpo. Nunca, NUNCA, vimos uma interacção inteligente da parte dela (na verdade, sempre me pareceu bastante burra) e a sua relevância para esta história resume-se à frequência com que abre a pernoca.

Ai e aquele final....quantas lágrimas choraram??? Por um lado, nunca esperei que ele fosse fazer aquilo mas por outro lado acho que vai de encontro ao personagem.Tudo bem, ele nunca teve tendências suicidas mas que opções restavam? Fugir: ele não era covarde, apenas fugiria por um bem maior (o amor de Ann); arranjar uma artimanha para virar o feitiço contra o feitiçeiro: ele não era manipular; ir preso:....pois, acho que preferia, né? Podia vir o David, descobria a Ann edava um jeitinho mas bolas!!!! Este final foi mesmo tipo.... seriously??? ARE YOU FUCKING KIDDING ME???

Verti lágrimas em pleno comboio.

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