E ele atravessou um comboio em hora de ponta para te ver. Não digas
que não tens sorte, Lena. Para mim não há nada disso. Nem garotos a
afastarem pessoas em comboios atarefados nem um sol que brilhe mais
quando apareço nem um sinal vermelho que feche quando quero atravessar a
rua. Para mim não há nada.
Até os pingos da chuva se afastam de mim, quando caem tão indeliberadamente. Sou imune, percebes?
Escrito num Fertagus apinhado, em hora de ponta e em dia de chuva.
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domingo, 23 de novembro de 2014
quarta-feira, 21 de maio de 2014
sábado, 11 de janeiro de 2014
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
Eu e a Bia temos muitas conversas à uma da manhã, quando boa parte do mundo está a dormir---quiça, nós próprias estejamos meio adormecidas, e seja essa a razão das tiradas inspiradoras e risadas tontas que damos sozinhas, cada uma em frente ao seu ecran.
Apreciadora de citações, como eu, a Bia disse que tinha "lido num sítio qualquer" que "nós somos as conversas que temos, as pessoas que conhecemos, os sitios que vemos" e eu achei inspirador. Ela acha que é verdade e segue este lema de vida. Eu cá me pergunto com que pessoas se cruza ela, porque a Bia é aquela peça de uma colecção standart que sai meio torta, meio diferente. É única.
Se somos as pessoas que conhecemos e as conversas que temos e os sítios que vemos isso explicará muita coisa da vida. Provavelmente explica porque é que eu nunca estou calada---já tive muitas conversas---ou porque é que, ainda assim, me sei calar no momento certo e apreciar Lisboa a desembocar no Tejo. Gosto de sítios únicos e inspiradores. Tão inspiradores como a citação da Bia.
Hoje acordei e ela fez uma descoberta, descobriu qual o "sitio qualquer" onde tinha visto a frase e passou-me o paragrafo todo para eu ler. É por isso que estou a escrever isto, porque me inspirei e porque também quero ser aquela peça diferente, que sai meio torta e feia da máquina e que se vende a um preço incrivelmente injusto num freeport porque vem com defeito, como se fosse crime sair da mãe, sair da linha, sermos a vaca púrpura deste mundo.
E aqui fica:
Apreciadora de citações, como eu, a Bia disse que tinha "lido num sítio qualquer" que "nós somos as conversas que temos, as pessoas que conhecemos, os sitios que vemos" e eu achei inspirador. Ela acha que é verdade e segue este lema de vida. Eu cá me pergunto com que pessoas se cruza ela, porque a Bia é aquela peça de uma colecção standart que sai meio torta, meio diferente. É única.
Se somos as pessoas que conhecemos e as conversas que temos e os sítios que vemos isso explicará muita coisa da vida. Provavelmente explica porque é que eu nunca estou calada---já tive muitas conversas---ou porque é que, ainda assim, me sei calar no momento certo e apreciar Lisboa a desembocar no Tejo. Gosto de sítios únicos e inspiradores. Tão inspiradores como a citação da Bia.
Hoje acordei e ela fez uma descoberta, descobriu qual o "sitio qualquer" onde tinha visto a frase e passou-me o paragrafo todo para eu ler. É por isso que estou a escrever isto, porque me inspirei e porque também quero ser aquela peça diferente, que sai meio torta e feia da máquina e que se vende a um preço incrivelmente injusto num freeport porque vem com defeito, como se fosse crime sair da mãe, sair da linha, sermos a vaca púrpura deste mundo.
E aqui fica:
"You are the books you read, the films you watch, the music you listen to, the people you meet, the dreams you have, the conversations you engage in. You are what you take from these. You are the sound of the ocean, the breath of fresh air, the brightest light in the darkest corner. You are a collective of every experience you have had in your life. You are every single day. So drown yourself in a sea of knowledge and existence. Let the words run through your veins and let colors fill your mind"
terça-feira, 23 de julho de 2013
segunda-feira, 10 de junho de 2013
Nadal VIII, de Paris
Desde pequena, isto é, desde os meus 13 anos ou coisa que o valha, que vejo ténis.
E desde que vejo ténis, que apoio o Nadal.
E desde que apoio o Nadal que ele ganha Roland Garros---com excepção daquele ano fatidico, 2009, em que perdeu nas meias-finais.
Entre um Roland Garros e outro existem sempre períodos de baixo rendimento ou de intensas glórias; em particular, o ano passado, passou-se o total pesadelo em que, após uma desistência havia outra e outra e outra, e todos nós, Nadalistas, pensámos que o filão de vitórias e de jogos cheios de garra e força Nadaliana tinham terminado. E depois Rafael Nadal renasceu.
Eu sempre o apoiei. Desde os meus 13 anos, como disse. E desde os 13 anos que sei que as coisas só acabam quando acabam: uma partida com um aperto de mão, uma discussão com uma conclusão. Só é preciso ter calma e persistência e paciência mas mais que isso: força e querer. É preciso lutar.
E de entre todas as vitórias que já celebrei com o Nadal, todos os tracinhos de personalidade e pequenas lições de vida que com ele aprendi são as que mais estimo e que guardo para mim, como ele guarda todos os troféus de Roland Garros.
E desde que vejo ténis, que apoio o Nadal.
E desde que apoio o Nadal que ele ganha Roland Garros---com excepção daquele ano fatidico, 2009, em que perdeu nas meias-finais.
Entre um Roland Garros e outro existem sempre períodos de baixo rendimento ou de intensas glórias; em particular, o ano passado, passou-se o total pesadelo em que, após uma desistência havia outra e outra e outra, e todos nós, Nadalistas, pensámos que o filão de vitórias e de jogos cheios de garra e força Nadaliana tinham terminado. E depois Rafael Nadal renasceu.
'and to me it's always Nadal, Nadal, Nadal'
Eu sempre o apoiei. Desde os meus 13 anos, como disse. E desde os 13 anos que sei que as coisas só acabam quando acabam: uma partida com um aperto de mão, uma discussão com uma conclusão. Só é preciso ter calma e persistência e paciência mas mais que isso: força e querer. É preciso lutar.
E de entre todas as vitórias que já celebrei com o Nadal, todos os tracinhos de personalidade e pequenas lições de vida que com ele aprendi são as que mais estimo e que guardo para mim, como ele guarda todos os troféus de Roland Garros.
sábado, 23 de março de 2013
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Ela.
O meu nome é um
mistério como o fundo das águas do Pacifico ou como a história verídica do
Titanic ou como… como um coração de uma mulher. O meu nome é um mistério e não
interessa.
Esta história não
é sobre mim. É sobre ela. E é ela
quem interessa.
Ela é minha
homónima e minha antónima e tudo o que está no meio.
Os seus sonhos
são profundos como as marcas que as suas unhas pontiagudas e quase letais
cravam na sua pele macia e branquinha, como a neve de Dezembro nas ruas de uma
qualquer cidade gelada. Talvez Moscovo, talvez Estocolmo… talvez, talvez. Quem
sabe o que guardam os seus sonhos e os seus olhares singelos e frágeis, e o seu
sorriso que está preso apenas por linhas de alinhavar, tão fracas, tão fraco que se
cair, cai. Isto é redundância minha, eu sei. O seu sorriso baterá a barreira do
som e despedaçar-se-á como mil pedacinhos de vidro nos mosaicos brancos da sua
cozinha… ou da sua casa de banho. Eu sei, porque eu vi.
O seu sorriso é
frágil, é ágil, é mentira.
Ela diz palavras
de amor, palavras de terror e quando fecha os seus olhos gigantes, como
holofotes virados para o chão de tão tristes que estão… quando fecha os seus
holofotes verde-esmeralda veem-se mil traços, laivos de sangue escorrendo da
sua pele. E ela nem nota, ela nem sente… Ela só vê vermelho, e mais vermelho e
talvez um pouco de vermelho acastanhado porque quando o sangue é em demasia
tende-se a perder um pouco a noção da sua cor e ele coagula e junta-se ao
sorriso que ainda ali está, estatelado no chão.
Uma lágrima, duas
lágrimas. Um suspiro. Vem ai alguém e ela não pode mostrar, não pode sentir,
não pode sorrir, não pode, não pode, não pode, não pode desistir.
E então lá anda
ela, tão quieta, tão singela, sempre de top verde e de jeans bem apertadinhas,
fingindo ser o sol do dia, la creme de la
creme, o morango com chantilly. Ela é assim durante o dia, escutem-me bem.
Os seus olhos grandes e profundos e sentidos e o seu sorriso de plástico
(porque o de vidro, o verdadeiro, despedaçou-se, perdeu-se e então o plástico é
a melhor das alternativas) e os seus saltos altos que a fazem sentir-se altiva
e rainha. Ela merece sentir-se rainha, porque ela é tão linda e frágil.
Pobrezinha.
E agora lá vai
ela. Cuidado, cuidado… vejam como ela desfila pelo Bairro Alto, quando as horas
do seu relógio de pulso avançam para o número 11. Lá vai ela, vejam-na bem,
sempre de copo na mão e cigarro entre os lábios carnudos, pintados de
vermelho… ou cherry, que é mais chique. Ela quer adiar a noite porque a noite
dela só começa quando chega a casa e tira o seu vestido negro como o seu humor,
e fica apenas com aquela lingerie rendilhada que comprou num acto de raiva e loucura e impulso e desejo, e prostra-se
frente ao espelho e lá ela vê tudo o que poderia ter sido e não é. Tudo o que
os outros não a deixam ser, pensa ela.
E culpa a irmã e
culpa a mãe e culpa o mundo porque a censuram e a derrubam e a odeiam. Mas não o culpa a ele. Porque ele é ele. Ou talvez porque ele seja Ele. Ela
às vezes entoa as coisas de uma maneira que me levam a crer que ele é sempre
Ele, e não apenas um ele.
Há algo nos
homens, já reparei, tão misterioso como o meu nome e como o nome dela (porque
somos homónimas mas antónimas) e como o Titanic e o Pacifico. Os homens. Os
homens são um mistério ou como ela diria “a fava no bolo Rei”.
Ela diz que antes
era tudo bom. Que ela era completa e não apenas uma “fatia da tarde de maçã
desta vida” porque para ela as maçãs são o melhor… aí somos sinónimas e não
antónimas como em tantas outras coisas, tais como o humor e o calor e o sabor
de viver. Somos sinónimas na maçã e homónimas de nome e acho que chega de
parecenças.
Ela diz que quando ele se foi tudo mudou. Ele… Ele… sei o seu nome e a sua morada é
incerta… sei que derrete corações e incendeia paixões e acalenta sonhos de
romances impossíveis. Diz que é cantor… ou “popstar”. Ela chama-lhe popstar poque sempre se encantou com estrangeirismo. Ela diz, ela diz, ela canta, até, por vezes. Ou cantava porque agora
ela já não é ela.
Naquela noite ela
chegou a casa e estava tudo calmo, tão tranquilo. A mãe dormia e a irmã cantava
fado numa das tasquinhas de Alfama, que é assim que ganha a vida. E ela, a
minha homónima mas antónima e por vezes sinónima, fez a sua rotina. Já passava
das duas da madrugada, e ela dizia que a noite era uma criança mas ninguém a
quis ver crescer… ela gostava sempre de ver a noite a tornar-se adulta e depois
a morrer com o nascer do Sol. Penso que era nisso que o encanto dela consistia…
no nascer do Sol, porque ela nunca saia do Bairro sem haver pontada de luz
natural.
Mas nessa noite
ninguém quis e por isso juntámo-nos ao grupo de cobardes que a fazem infeliz e
lá fomos, cada um para o seu canto, cada um com o seu encanto e ela só. E por
isso chegou a casa com o seu vestidinho preto da Zara e os seus amados Jeffrey
Campbell e prostrou-se, como sempre, frente ao espelho de corpo inteiro que tem
no quarto. E ai, ainda antes de fazer deslizar os seus dedos longos e frios
pelo fecho dourado no lado direito do seu corpo esbelto e esguio, ela chorou e
as suas mãos enrolaram-se em volta do cabelo castanho caramelo que ela estica todas as manhãs.
Afinal a culpa
podia ser dele, porque a mãe batia-lhe e a irmã insultava-a mas ele roubou-a…
desproviu-a de um coração, que não se nega a ninguém. Mas agora ela estava sem o
seu coração e ele tinha dois na palma da sua mão (ou um na palma da sua mão e
outro a palpitar no seu peito). E que jeito tem isso, pergunto eu? Que jeito?
Que imperfeito, malfeito, invejoso ser faria isso a uma rapariguinha, que vive
a noite como se fosse dia e vê-a morrer como se fosse algo banal, normal, usual, e que anda sempre aperaltada, exaltada, com o seu mini vestido e
os seus lábios cor de cherry e que quando anda balança a anca e o seu cabelo
como se fosse um vai e vem? Ele vai e ele vem… o cabelo, digo, eu. Porque Ele
foi e não veio e portanto lá está ela, ajoelhada no seu quartinho, frente ao
espelho gigante e desta vez ela não se despe.
Não, ela só
chora. E depois faz o que mais gosta, o que mais detesta, o que mais a
conforta, o que mais a revolta com aquele pequeno pedaço de gillette que mantém escondido num espaço recôndito e sagrado do roupeiro.
Porque ela só vê
laivos vermelhos, não se esqueçam. Ela gosta do contraste que fazem na sua pele
de Branca de Neve. Mas por vezes até os melhores profissionais cometem erros e
este corte foi muito fundo.
E agora os laivos
não são vermelhos, são castanhos. Porque já vos disse e já lhe disse: quando o
sangue é demais, perdemos a noção da sua cor. E apesar de ser tudo vermelho, ela só vê branco... dizem que é a vida a passar-nos à frente mas eu não sei. Talvez seja simplesmente o fim da linha.
E por isso lá vai
ela, com o seu vestidinho preto e os seus Jeffrey Campbell e o seu cigarro
entre os lábios vermelho e o seu cabelo a baloiçar… vejam-na, olhem para ela
como nunca olharam porque a morte tem este dom: fazer-nos acordar. Não é isso
que acontece quando acaba a noite e começa o dia? Não acordamos?
E eu cá vou, à
procura dele.
Porque como vos
disse, ela é minha homónima, minha antónima e tudo o que está no meio.
Querido, Ernesto...
Querido Ernesto,
Fico feliz por ver que a criança que reside em ti diminuiu. Não ouso
sequer dizer que desapareceu, bem sei
que não, querido Ernie; bem sei que nenhuma criança que resida num corpo de
adulto, grande e complicado de mais para uma mente tão inocente e criativa como
a de um pequeno ser, deva desaparecer.
Elas simplesmente não desaparecem, Ernesto, mas fico feliz por ti.
Fico feliz porque conseguiste superar as adversidades que te colocaram à
frente. Sabes, sempre pensei que fosses como o vento e voasses na direcção que
te dava mais jeito... ora para Norte, ora para Sul, ora estagnasses pois
estavas cansado demais para fazer o que quer que fosse. Mas agora sei que não.
Agora sei que és como as ondas do mar que nunca param e que mexem sempre,
sempre... até embater contra a branca e suave areia que as aguardam numa
qualquer praia. A tua praia é a vitória.
Reparei que enfrentaste certas tempestades, mas, oh Ernesto, por favor
não ligues. Por favor continua a ser tu, o Ernestezinho que sempre conheci e
idolatrei; e ainda agora com esses caracois desalinhados que tomaram o lugar do
teu cabelo quase cortado à escovinha e penteado demais, e com essa barbicha de
jovem galã por fazer, me apaixonas. Oh Ernesto, Ernesto...
Sabes que serei sempre tua. Sempre verdadeiramente tua para que um dia,
quando te apetecer fazer crescer a criancinha, quase bebé, residente em ti, o
possamos fazer juntos. E aí saltaremos num qualquer jardim, e quem sabe
possamos reaver a inocência de quem nunca amou.
Por favor cuida de ti, Ernesto. Por favor, ultrapassa os obstáculos por
mim e mantém-te forte como o tal muro
que separava o famigerado país, lá para os lados de leste... mas que sei eu?
Nada. Apenas sei que te deves manter forte.
Da sempre tua,
Dulce.
em 29 de Abril de 2010
N/A: Este foi um dos primeiros textos que escrevi que integram a saga "Querido, Ernesto". Reli agora, gostei e postei :)
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